segunda-feira, 28 de março de 2011

Você é a favor ou contra o uso de OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) na agricultura?

Essa é uma pergunta que freqüentemente retorna aos meus ouvidos quando digo que sou Engenheiro Agrônomo. Na verdade esse questionamento surgia muitas vezes na época que eu estava na graduação. Mal sabem que a minha resposta é fundamentada principalmente por termos políticos do que por técnicos ou, melhor dizendo, das ciências sociais e humanas do que das ciências naturais. Veja bem, eu disse principalmente.

Usar alimentos transgênicos faz mal à saúde? Talvez... É difícil realmente saber quando o controle da ciência já está em grande parte dominado pelas grandes corporações. Na verdade até que não é difícil, mas não vou focar meus argumentos nesta discussão. Mas de qualquer forma, independentemente dos resultados nesse campo de pesquisa, alimentos naturais também podem fazer mal a determinadas pessoas, como os intolerantes a glúten e a lactose, por exemplo. Algumas pessoas morrem por picadas de abelhas. Há algo mais natural que abelhas? Quem sabe se os aparelhos de telefone celular fazem mal ou não? Quem sabe o quanto as ondas de wireless e de muitos outros sistemas de transmissão de dados fazem mal a gente? Só sei que eu não vou deixar de usar celular e muito menos a internet sem fio, pelo menos num longo prazo de tempo.

Passando para o campo ético, vem a discussão sobre inserir fragmentos de DNA de determinadas espécies em outras. Nos produtos agrícolas as ações se enquadram principalmente na inserção de genes de bactérias em vegetais. Técnicas de inserção de genes de vegetais em outros vegetais possibilita e/ou facilita o processo de melhoramento genético. Melhoramentos genéticos vem sendo feito desde o início da agricultura no mundo, pela domesticação dos produtos vegetais, em outras palavras: seleções artificiais. É claro que essas técnicas têm efeitos diversos no meio ambiente. Certamente são perigosas para a natureza, lembrando que na natureza há sempre uma tendência a magnificação dos efeitos colaterais. Se a introdução de espécies exóticas já causa desequilíbrios ambientais, imaginem espécies exóticas com fragmentos genéticos de outra espécie.

Para o texto não ficar muito extenso vou expor agora o último ponto chave desse debate. O principal problema dos OGMs está no controle desse tipo de tecnologia por poucas corporações. Ou seja, está na aquisição mercadológica de organismos vivos. Isso renderia uma longa explicação, mas vou tentar ser mais direto. Hoje, grande parte da diversidade de variedades de alimentos está em extinção. E essa tendência ainda continua crescente. Ser contra o uso de OGMs na agricultura é principalmente uma questão de segurança e soberania alimentar. Imaginem o perigo que é concentrar o controle da produção dos alimentos em duas ou três empresas norte americanas? Imaginem um cenário que para não passar fome teríamos que pagar taxas a essas empresas, que cada vez mais registram variedades de plantas em seus nomes, além de acabar com a biodiversidade. E o pior é que ainda vendem o seu produto como a salvação do meio ambiente, dizendo que dispensa alguns agrotóxicos. Mentira!!! Há técnicas de produção em variedades convencionais, que racionalizam o uso de agrotóxicos, baseadas no controle de níveis populacionais de pragas e doenças levando em consideração o nível de dano econômico. Tudo feito através de acompanhamentos estatísticos. Não que isso seja o ideal, mas já é melhor do que o pacote de produção transgênica, por assim dizer, faz. Há técnicas muito mais apropriadas que dispensam totalmente o uso de agrotóxicos, e sim, daria pra sustentar as quase 7 bilhões de pessoas no mundo. Lembrando que quase 50% do que é produzido na agricultura hoje em dia tem como destino o biodisel e rações para animais.

Resumindo, os transgênicos fazem mal para a saúde, têm efeitos maléficos conhecidos e, ainda não conhecidos, no meio ambiente; mas principalmente, causam uma dependência socioeconômica, seja desde o agricultor que vira refém da tecnologia e dos produtos oferecidos por oligopólios, ou até mesmo um país ou continente que não detém mais os direitos sobre os alimentos que produzem em seus territórios.

Um comentário:

  1. é o capitalismo, ele empurra tudo pro monopólio, quer queira ou não. Ainda mais considerando que a agricultura cada vez mais se torna um ramo da indústria (como Marx já tinha dito a mais de um século).

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